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Ave considerada extinta é redescoberta nas Bahamas


Tradução: Pedro Surreaux*

Fonte: www.sciencedaily.com/releases/2018/08/180823092033.htm


Uma das aves mais raras do hemisfério ocidental, a trepadeira-das-bahamas (Sitta insularis) foi redescoberta por equipes de busca na ilha da Grande Bahama (figura abaixo). Nenhum indivíduo havia sido avistado desde que o catastrófico furacão Matthew assolou a ilha, em 2016. Os pesquisadores temem que existam apenas dois indivíduos restantes, colocando a espécie na lista das aves mais severamente ameaçadas de extinção.



A trepadeira-das-bahamas é uma espécie ameaçada, vivendo apenas em uma pequena área de floresta de pinheiros nativos na ilha da Grande Bahama, a 160 quilômetros de Palm Beach, Flórida.


Os mestrandos da Universidade de East Anglia, Matthew Gardner e David Pereira, organizaram uma expedição de três meses com o intuito de encontrar esta e outras espécies de aves endêmicas das florestas de pinheiros caribenhas. Os pesquisadores abriram caminho por entre a densa floresta e um espesso sub-bosque da “madeira venenosa da Flórida” (Metopium toxiferum), que cresce sob as copas da floresta principal, naquela que é tida como uma das trilhas de busca mais exaustivas da ilha.


Os estudantes de mestrado trabalharam em parceria com Nigel Collar e David Wege, da Birdlife International, e com o Fundo Nacional das Bahamas, organização que trabalha na proteção dos habitats e conservação das espécies das Ilhas Bahamas.


Um segundo grupo de estudantes, liderado por Zeko McKenzie, da Universidade das Bahamas do Norte, e financiado pela American Bird Conservancy, também ingressaram na busca pela ave.


A trepadeira-das-bahamas tem o bico longo, um chamado estridente característico e faz ninhos apenas em pinheiros maduros. Nos últimos vinte anos, houve um severo declínio populacional, tendo o número de indivíduos caído de 1.800, em 2004, para meros 23, em 2007. O declínio provavelmente deveu-se à perda de habitat ocasionada pela contínua extração de madeira na região. Mais recentemente, o furacão Matthews somou-se ao quadro de fatores que colaboram para a extinção da ave, tendo destruído grandes áreas de floresta nativa.


Ambas as equipes de busca relatam ter visto espécimes em maio, tendo a equipe estadunidense conseguido registrar as imagens em vídeo (link no fim da matéria).


Dra. Diana Bell, da UEA School of Biological Sciences, comenta a situação da espécie: “A trepadeira-das-bahamas é uma espécie severamente ameaçada, tanto pela destruição e degradação de seu habitat como por fatores como presença de espécies invasivas, aumento do turismo na região, incêndios florestais e danos do furacão Matthews.”


“Nossos pesquisadores buscaram a ave em 464 pontos estabelecidos nos 34.000 hectares da floresta de pinheiros. Foi como procurar uma agulha no palheiro. Eles utilizaram uma gravação do chamado característico da ave na tentativa de atrair espécimes.”


Além da busca pela ave, a equipe ainda ocupava-se de coletar dados ambientais, para o melhor entendimento das preferências de habitat da trepadeira-das-bahamas, e de avaliar os danos causados pelo furacão.


Matthew Gardner comenta: “Fomos os primeiros a ingressar em uma jornada tão exaustiva, por entre os 700km da floresta, a pé.”


“Rastreamos a floresta por cerca de seis semanas e chegamos a quase perder a esperança. Até ali, havíamos caminhado 400km. Foi então que, de repente, ouvi o canto inconfundível da trepadeira e vi uma vindo em minha direção. Eu gritava de alegria, estava em êxtase!”


A equipe da UEA visualizou a ave um total de seis vezes, sendo que o time liderado por McKenzie, independentemente, foi responsável por cinco delas, incluindo aquela que acreditam ter sido uma visão de dois indivíduos juntos.


Gardner afirma: “Em três meses de busca intensiva, efetuamos seis visualizações da trepadeira-das-bahamas. Nossa busca foi extremamente rigorosa, mas mesmo assim ainda não havíamos sido capazes de visualizar dois espécimes juntos, o que nos fez pensar que só havia um indivíduo restante.”


“A outra equipe relatou ter visto dois indivíduos juntos, o que é muito promissor. Ainda assim, a espécie está à beira da extinção, sendo uma das aves mais ameaçadas do planeta.”


“Também não sabemos o sexo das aves. Em muitos casos, quando espécies são reduzidas a grupos tão pequenos, é comum que os indivíduos restantes sejam todos machos.”


“As imagens mostram com clareza que se trata desta espécie tão peculiar. Não pode ser outra coisa”, diz Michael Parr, Presidente da American Bird Conservancy e ex-aluno da UEA”


“Felizmente, esta não é uma ave difícil de ser identificada. Por outro lado, foi indiscutivelmente difícil de ser encontrada”, acrescenta.


A trepadeira foi avistada em uma pequena área conhecida como Lucaya States. Durante o projeto de busca, os espécimes foram vistos e ouvidos em três localidades distintas, mas próximas entre si, dentro da área.


O pesquisador Zeko McKenzie comenta: “Embora a trepadeira-das-bahamas tenha tido um grave declínio populacional, estamos confiantes pela dedicação de cientistas que buscam métodos para a conservação a recuperação da espécie. A equipe da UEA, no entanto, está menos otimista quanto aos fatores que contribuíram para a quase extinção da ave.


“É ainda absolutamente crucial que esforços para a conservação da floresta de pinheiros do Caribe não se percam, uma vez que é o habitat de outras aves endêmicas, como a andorinha-bahama, a bahama warbler e a toutinegra-de-garganta-amarela “O habitat é ainda de extrema importância para aves migrantes da América do Norte, como o toutinegra de Kirtland”, acrescenta.


Ellsworth Weir, agente de reserva da Grande Bahama, diz: “Foi um prazer para o Fundo Nacional das Bahamas receber Matthew e David e seu importante projeto de pesquisa e conservação na Grande Bahama”.


“Seu trabalho os levou a todos os cantos da ilha, naquela que foi provavelmente a busca mais minuciosa já realizada. Sua pesquisa, que incluiu dados sobre a ave e seu habitat, ajudarão a responder perguntas que muitos habitantes locais têm se perguntado faz algum tempo.”


“Agora temos a consciência de que, infelizmente, estamos enfrentando uma situação gravíssima no que diz respeito à trepadeira-das-bahamas. Não teríamos compreendido o quadro em que a espécie se encontra se não fosse pelos esforços de David e Matthew.”


Um pequeno vídeo sobre a espécie está disponível:


* Desde muito cedo fui bastante interessado pela natureza e por seu funcionamento, pelos seres vivos e pelo comportamento humano. Graduando em Bacharelado em Letras - Tradutor Português e Inglês pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e bolsista de Iniciação Científica CNPq-UFRGS desde 2015.

http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K8386226T0

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