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Alexander von Humboldt, o naturalista que influenciou Darwin (e além)

"Antes eu admirava Humboldt, agora eu quase o venero."

(Charles Robert Darwin)


Você já leu ou ouviu falar sobre Alexander von Humboldt? O nome pode lhe parecer estranho, porém ele foi um dos naturalistas mais brilhantes a pisarem em solo terráqueo.


Em sua homenagem existe a corrente marítima Humboldt, na costa pacífica da América do Sul, a serra Humboldt no México, o pico Humboldt na Venezuela. Outros locais que levam o seu nome são uma cidade na Argentina, um rio em Santa Catarina, uma geleira na Groenlândia, cordilheiras de montanhas na China, além de outras 13 cidades na América do Norte e uma cratera na lua. Mais de 300 espécies vegetais e mais de 100 animais também levam o seu nome. E a lista continua… Provavelmente nem Darwin e Wallace foram tão homenageados. Mesmo assim, Humboldt é frequentemente menos lembrado que seus colegas naturalistas.


Nascido em 14 de setembro de 1769, na atual Alemanha, o pequeno Humboldt já tinha espírito de naturalista e explorador. Vindo de uma família nobre, teve toda sua educação regida por professores renomados de diferentes áreas. Porém, ficar sentando em uma cadeira estudando não era o suficiente, Humboldt deixava de ir às aulas para andar pelos bosques e campos arredores. Esse espírito inquieto o acompanhou até o fim de sua vida e fez com que ele se tornasse um grande pesquisador.


Entre seus vai e vem, uma das viagens mais importantes que ele faria era a tão sonhada viagem às Florestas Tropicais Sul Americanas. Em 1800, juntamente com seu acompanhante de viagem Aíme Bonpland, e caixas e mais caixas de equipamentos para medir desde plantas, até mesmo a quantidade de oxigênio no ar, partiram para os trópicos. Desembarcaram na costa da Venezuela, e daí partiram para uma das viagens mais fantásticas já registradas por um naturalista, em meio a rios lotados de jacarés, a Floresta Amazônica densa, até subindo os Andes por encostas íngremes com todos seus equipamentos no lombo de mulas. Dessa viagem saíram dados que usamos até hoje, e um conhecimento unificado da natureza, inclusive sua famosa obra “Quadros da Natureza”, de onde foi retirada a Figura 1.

Figura 1. A Naturgemälde de Humboldt, retratando o Monte Chimborazo no Equador.

Suas obras são famosas por todo o conhecimento que o Humboldt produziu, principalmente comparando a ecologia de diferentes regiões, mas também pela forma poética que ele descrevia o que via. Foi essa forma de escrita que encantou Darwin. A escrita da Narrativa Pessoal (Figura 2) de Humboldt foi o livro que acompanhou Darwin na sua viagem no Beagle, até seus últimos dias de vida (Darwin terminou de reler o livro duas semanas antes da sua morte - dado este tirado da capa da edição pessoal dele).


Figura 2. Capa do livro “Narrativa Pessoal” de Humboldt. O livro teve grande importância sobre a vida de Darwin.

Humboldt também foi um dos primeiros a hipotetizar que a humanidade tinha capacidade para alterar o clima do planeta através da destruição da natureza, e que isso poderia ter consequências. Em 1832 argumentou três maneiras pela qual o clima seria alterado: pelo desmatamento, pela liberação de gases em centros industriais e pela irrigação. Ele parece ter sido profético. Sabemos hoje que o principal motor das mudanças climáticas é a liberação de gases de efeito estufa, como o CO2. Além disso, se conhece também que o desmatamento pode levar a efeitos não só locais mas globais do clima. Os rios voadores da Amazônia são um excelente exemplo.


Suas contribuições não ficaram apenas no campo da Ciência, Humboldt também era um entusiasta das artes e tinha opiniões revolucionárias sobre política. Ele escreveu vários textos sobre suas ideias durante a viagem pela América Latina, principalmente sobre economia de países como Cuba e México. Nos Estados Unidos teve fortes visões do segregacionismo racial, o que o tornou um abolicionista ferrenho até sua morte, inclusive construindo leis antiescravidão que seriam depois aprovadas na Alemanha (Prússia na época).


Por ser um entusiasta em diferentes áreas do conhecimento, e percorrer diferentes instituições (ele era tesoureiro do rei da Prússia, participada da Royal Society em Londres, entre outras reuniões e conversas da elite da época) o tornou muito famoso no seu tempo. Pessoas de todos os lugares do mundo queriam conhecer e trocar uma ideia com o Humboldt. Ele era frenético, pulava de um assunto para o outro, tinha hipóteses sobre diferentes questões da natureza, desde ecologia terrestre até sobre o universo. Suas curiosidades sobre diferentes questões o faziam enviar dezenas de cartas por ano para especialistas do assunto, pra sempre estar atualizado sobre o que acontecia no mundo. Da mesma forma, recebia cerca de 2500 cartas por ano.


Por fim, suas contribuições para a Ciência vão além do que já comentamos acima. Ele foi responsável por descrever a ecologia de plantas e animais em diferentes altitudes, publicou junto com especialistas das áreas milhares de espécies de plantas, fez diversas contribuições para Zoologia. Também deu início ao pensamento sobre Conservação da Natureza e é considerado o pai da Biogeografia. Graças a ele, Darwin embarcou no Beagle e nos proveu uma das teorias mais importantes da Biologia, e também foi um importante mentor de diversos cientistas ao redor do mundo.


A Alexander von Humboldt, o nosso muito obrigada. Você foi grande!



Texto escrito por Bárbara Schünemann e Maico Fiedler.


Fontes e indicações:

Wulf, Andrea, and Renato LR Marques. A invenção da natureza: a vida e as descobertas de Alexander Von Humboldt. Planeta, 2016.


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